Cercas digitais dificultam e facilitam a circulação em São Paulo
A tentativa da Prefeitura de São Paulo de proibir que motoristas de aplicativos como Uber e 99 com placas de outras cidades atendam corridas na capital, decidida em janeiro e atualmente barrada pela Justiça, só é possível por causa das chamadas cercas digitais.
A tecnologia destas “cercas” cria fronteiras virtuais: dentro de determinada área, clientes não podem fazer pedidos ou condutores ganham mais por viagem, por exemplo.
É a lógica por trás do preço dinâmico de aplicativos como o Uber: as corridas ficam mais caras se há excesso de pedidos. E também por trás do bloqueio a algumas áreas das periferias consideradas inseguras. Quem mora em certas partes da cidade não consegue pedir um carro. E como os aplicativos não informam onde estão estas zonas, é preciso advinhar onde começa e termina cada uma delas.
No entanto, a ideia de cerca digital também pode ser usada para melhorar a vida dos passageiros. A regulamentação dos aplicativos de transporte aplicada na cidade de São Paulo determina uma taxa menor por quilômetros rodados fora do centro expandido, o que ajuda a baratear as viagens nessa parte da cidade.
Se São Paulo conseguir barrar o serviço de carros vindos de outras cidades, pode-se criar o caminho para que outras cidades vizinhas façam o mesmo e impeçam veículos paulistanos de atender em suas ruas ou que cobrem taxas extras. Seria uma volta ao modelo dos táxis, no qual cada município tem sua frota e uma viagem de dois quilômetros pode custar R$ 30, por incluir a cobrança de mudança de cidade.
Se seguirem essa rota, cada uma das 39 prefeituras passaria a arrecadar mais dinheiro, mas à custa de dificultar a circulação de milhões de pessoas. Uma solução possível, mas aparentemente distante, é a criação de uma autoridade metropolitana de transporte, capaz de gerir as receitas e a circulação na Grande São Paulo de forma integrada.
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