Big data pode ajudar a conter evasão escolar e desvios na saúde, diz especialista

O uso massivo de dados é comum na área de transportes, como mostra o sucesso de aplicações como Uber e Waze. No entanto, áreas como educação e saúde também podem fazer melhor uso das grandes quantidades de informação disponíveis para melhorar a vida de pacientes e alunos, defende Emílio Arias, especialista em uso de big data.

Entre as soluções possíveis: criar formas para detectar alunos que estão prestes a abandonar a escola e fazer um controle mais rigoroso dos recursos dos hospitais, para otimizar seu uso e evitar fraudes.

Arias, 46, é diretor da Stratebi, empresa espanhola que busca soluções para empresas e cidades lidarem melhor com as informações que possuem.  Ele atua há mais de 20 anos com análise de dados e também é professor da Spain Business School, em Madri.

A empresa ajudou a implantar um novo sistema de gerenciamento das informações do serviço de saúde de Madri e a melhorar o uso de dados dos governos locais de Extremadura e de La Rioja, na Espanha.

A seguir, trechos da conversa com o blog após uma aula de Arias em Corunha.

O professor Emilio Arias (Arquivo pessoal)

Folha – Que decisões as cidades mais tomam hoje com base em big data?
Emílio Arias – As principais são para economizar energia,  melhorar o uso do espaço público, especialmente de áreas de estacionamento e para o transporte público, automatização do sistema de irrigação de jardins e parques e melhora do serviço a cidadãos e a turistas, como dados de hoteis, reservas, descontos e eventos, . Há também sensores para medir o grau de contaminação por poluição e níveis de ruído. Em Santander, há anos monitores pela cidade acompanham os níveis de contaminação e de trânsito.

Quais setores estão mais avançados no uso de big data e quais menos?
As áreas de transporte, turismo e energia são as mais avançadas. Os setores de educação e saúde poderiam usar os dados de forma mais ampla e efetiva.

Como essas áreas poderiam usar melhor os dados?
Na saúde, é possível prevenir e detectar epidemias, personalizar cuidados preventivos e encontrar fraudes nos serviços. Na educação, criar sistemas de recomendação de cursos, prevenir o fracasso acadêmico e evitar a evasão escolar.

A troca de informações entre governos locais e empresas interessadas em usar os dados públicos funciona de forma adequada?
Desde alguns anos, devido a regras sobre transparência e “governo aberto”, se estabelece que os dados de interesse público devem estar disponíveis para empresas que possam oferecer serviços que aportem valor à comunidade. Assim, em muitos contratos públicos já se marca como requisito que os dados gerados e armazenados pelas empresas contratadas devem ser colocados à disposição dos cidadãos, em formato aberto que permita reutilização.

O que dificulta a expansão do conceito de smart cities?
Essas iniciativas necessitam de apoio econômico e de colaboração público-privada para se desenvolver de forma efetiva. A Espanha é um dos países mais avançados quanto ao uso de big data pelas cidades em boa parte graças aos investimentos econômicos aportados pela União Europeia. No entanto, a melhora da tecnologia e dos custos de software, em sua maioria de código aberto, reduz as barreiras. Depende também de que os políticos tenham estratégia para apostar em iniciativas que podem durar mais de dez, quinze anos. É preciso de visão a longo prazo.