Problemas do transporte público já somam mais de 150 anos

“Esperava embarcar no trem às 18h15, mas um atraso me fez esperar 15 ou 20 minutos em uma plataforma muito insegura, fria e estreita, ao lado de 200 ou 300 pessoas, enquanto trens iam e vinham, passando a uma distância perigosa”, reclamou um passageiro londrino ao jornal The Times, em 1864.

Há mais de 150 anos, voltar para casa começava a ser a saga que se vê nas metrópoles até hoje.

A jornada difícil até o trabalho surgiu junto com o crescimento das cidades no século 19. Levar uma quantidade enorme de gente nos mesmos horário e direção gerou um desafio até hoje não resolvido plenamente. As pessoas chegam aonde precisam, mas fazem viagens demoradas e apertadas.

As tentativas da capital inglesa para resolver seus problemas de transporte são contadas no Museu dos Transportes de Londres. Visitá-lo ajuda a entender como chegamos à hora do rush e como o Brasil pulou vários capítulos dessa história.

No início dos anos 1800, as ferrovias construídas na Inglaterra criaram atalhos para cruzar o país. A industrialização levou milhares de pessoas a trabalhar e a viver nas cidades. Londres passou de 630 mil moradores em 1714 para 2 milhões em 1840. Cem anos depois, chegaria a 8,5 milhões, número próximo ao atual.

Para abrir espaço aos trilhos, casas foram retiradas sem indenizar seus habitantes. Os desalojados foram morar mais longe e tiveram de começar usar o trem todos os dias. Como paliativo, as empresas ofereceram bilhetes com tarifa reduzida aos trabalhadores, mas para embarcar antes do sol nascer.

O parlamento britânico proibiu que as ferrovias chegassem até o centro de Londres. Criou-se aí uma demanda nesse trecho final do caminho. Conforme ela foi crescendo, as carruagens aumentaram de tamanho e algumas delas passaram a fazer a mesma rota todos os dias. Em 1829, surgiu o primeiro “omnibus” da cidade,  com facilidades como poder embarcar sem ter reservado um lugar antes e pagar diretamente ao condutor. 

 

Bonde com dois pavimentos no Museu de Transportes de Londres (Rafael Balago/Folhapress)

Nas décadas seguintes, o crescimento urbano engoliu as estações que ficavam nos arredores e outras soluções foram buscadas. As ruas ganharam trilhos para que as carruagens coletivas, puxadas por cavalos, pudessem rodar de forma mais ágil. Outras empresas montaram linhas de navio a vapor pelo rio Tâmisa.

Em 1863, veio o caminho mais efetivo, o metrô. Nas primeiras décadas, seus vagões eram movidos por locomotivas a vapor. A fumaça das fornalhas invadia os túneis e estações, gerando um ambiente sufocante. O problema só seria resolvido com a adoção das redes de energia elétrica.

Os veículos a diesel se espalharam pela cidade no início do século 20 e foram festejados como solução para limpar as ruas, pois os cavalos geravam um volume absurdo de sujeira. Cem anos depois, motores movidos por combustíveis fósseis estão sendo banido do centro de Londres em troca de modelos elétricos, para reduzir a contaminação do ar. 

Também no século 20, Londres criou mecanismos para conter sua expansão, como um cinturão verde, e seguiu ampliando a rede de transporte. Com isso, a lotação diminuiu. No entanto, o aumento do preço dos imóveis na capital inglesa nos últimos anos faz com que as pessoas se mudem para bairros mais distantes e, assim, passem mais tempo em trânsito.

Comparando passado e presente, as inovações de transporte agora se espalham mais rápido pelo mundo. O Uber estreou em 2010, nos EUA, e veio para o Brasil em 2014. E já em 2011, aplicativos para chamar táxi eram lançados por aqui. Como comparação, o metrô só chegou a São Paulo mais de cem anos depois de ser inventado.