Setor público precisará fazer barulho para competir com apps de transporte

A baixa adesão ao aplicativo SPTáxi mostra a importância dos detalhes para que uma inovação funcione. E também do poder do marketing.

Matéria publicada nesta quarta-feira na Folha mostra que apenas 36 mil paulistanos se cadastraram na opção criada pela prefeitura em abril, mesmo com a chance de ter descontos de até 40% nas viagens. Há também queixas de que o aplicativo não avisa quando há pedidos.

“Ele não abre a tela do celular quando está chamando. Fica escuro. Nesse intervalo, já tocou quatro vezes, a campainha é baixa e você não ouve”, afirmou o taxista Aldonei Soglia.

Todo o esforço do projeto se perde quando o taxista não escuta o chamado. Isso levará o passageiro a recorrer a outro app e, talvez, a não voltar a usar a opção que falhou.

O mercado de aplicativos para chamar carros é dominado por empresas abertas há poucos anos que receberam investimentos milionários. Com isso, puderam atrair clientes e motoristas com promoções, descontos e outros incentivos.

Empresas como Cabify, Uber e 99 passaram anos buscando conquistar e fidelizar usuários mais do que dar lucro. Assim, têm caixa para bancar campanhas para aumentar o número de viagens e tentar equilibrar ao número de condutores disponíveis com o de passageiros interessados. Se não encontram um carro por perto quando pedem, os clientes vão a outro aplicativo. Quando faltam pedidos, os profissionais priorizam os outro apps.

É comum que motoristas trabalhem para mais de uma ferramenta e que alternem entre elas ao longo do dia. Se duas tocam ao mesmo tempo, qual atender? Para serem escolhidas, as marcas apostam em bônus e premiações. Exemplo: em algumas datas, condutores conectados entre 4h e 9h da manhã ganham R$ 40 por hora, além do valor das corridas regulares, desde que aceitem os chamados.

Estas companhias também investiram bastante em melhorar a experiência do usuário, como reduzir o número de cliques para fazer um pedido.

Para atender à demanda dos taxistas, o setor público começou a competir neste mercado. A prefeitura do Rio de Janeiro lançou um app em novembro e a de São Paulo, em abril. Os trabalhadores reclamam especialmente das taxas cobradas, que podem chegar a 25% do valor pago por cada corrida. Estas iniciativas buscam reduzir ou eliminar essa cobrança e deixar aos condutores a opção de oferecer descontos.

No entanto, os aplicativos das prefeituras precisarão ir além dos abatimentos para enfrentar competidores que somam anos de experiência em manejar estímulos financeiros e emocionais. A lista básica inclui melhorar a experiência dos usuários, facilitar o pagamento e reforçar as medidas de segurança, outra grande preocupação no setor. E, claro, alertar o motorista quando uma nova corrida chegar.