Patinetes que atingem 35 km/h chegam à Europa após causar confusão nos EUA

Um patinete elétrico de uso público que pode ser liberado pelo celular e depois deixado em qualquer lugar é a nova onda da mobilidade urbana. Depois de gerar queixas nos Estados Unidos, a novidade chegou a Paris no fim de junho.

Boa parte desta confusão se deve ao modo como a ideia foi lançada: o serviço começou sem pedir autorização a ninguém, e coube às prefeituras ter de lidar às pressas com os problemas que surgiram.

Com um patinete destes, o usuário viaja a até 35 km/h sem fazer esforço. A novidade busca atrair gente que quer fazer viagens curtas, como ir do metrô ao escritório, e que não usa bicicleta por não saber pedalar ou não querer se cansar.

Cada empréstimo custa geralmente US$ 1 (cerca de R$ 3,90), mais US$ 0,15 por minuto. Assim, um trajeto de 15 minutos sai por US$ 3,25  (quase R$ 13) nos EUA e € 3,25 (aproximadamente R$ 15) em Paris.

Usuário estaciona patinete em Atlanta, nos EUA (Brinley Hineman/AP)

Chamados de “scooters”, estes veículos começaram a aparecer nas ruas dos Estados Unidos em setembro de 2017, primeiro na Califórnia e depois em cidades como Washington e Atlanta. Junto com eles, vieram problemas. Como podem ser deixados em qualquer lugar, patinetes abandonados em calçadas, rampas para cadeirantes e saídas de garagens atrapalham a circulação.

O uso deles em meio aos carros também gera preocupações. Em Santa Monica, na Califórnia, houve oito acidentes envolvendo patinetes nos primeiros 40 dias de 2018, incluindo um braço quebrado, segundo o Washington Post. 

A prefeitura local processou a empresa Bird por ter lançado o serviço sem autorização. Após um acordo, a companhia aceitou uma multa de US$ 300 mil (R$ 1,2 milhão) e se comprometeu a fazer mudanças, como reduzir a velocidade máxima de 35 para 24 km/h.

Em março, eles chegaram a San Francisco. Três marcas, Bird, LimeBike e Spin, espalharam ali cerca de 600 unidades. No começo de junho, a prefeitura proibiu seu uso enquanto debate as novas regras. A proposta é que operadoras tenham de criar planos para manter as calçadas livres, aumentar a segurança e compartilhar dados de uso, segundo o San Francisco Chronicle

Liberação do veículo é feita pelo celular (Benoit Tessier/Reuters)

Uma das ideias em discussão é pedir aos usuários que tirem fotos para provar que estacionaram os patinetes de forma correta. Outra é dar desconto a quem enviar selfies usando capacete.

Ao todo, 12 empresas se candidataram a entrar neste mercado em San Francisco. O negócio tem atraído o interesse do setor financeiro. Fundada em junho de 2017, a LimeBike já recebeu US$ 350 milhões (R$ 1,3 bi) em investimentos.

A expectativa é tentar repetir o sucesso de iniciativas como a Uber, cujo valor de mercado foi avaliado em US$ 72 bilhões (R$ 283 bi) no início de 2018. É quase o mesmo da montadora BMW.

Empresas que oferecem transporte por carro estão entrando no setor das chamadas microviagens. Em abril, a Uber comprou a Jump, startup que opera bicicletas elétricas, como parte do projeto de atuar em outros serviços de mobilidade.

Arthur Louis Jacquier, diretor da LimeBike, em Paris (Benoit Tessier/Reuters)

A LimeBike, que chegou a Paris no fim de junho, planeja levar seus patinetes elétricos a outras 26 cidades da Europa até o fim do ano. Neste continente, a abordagem tem sido diferente. A empresa fez um acordo com a prefeitura da capital francesa e contratou trabalhadores para recolher e recarregar os veículos à noite, em vez de deixar o trabalho para freelancers, como nos EUA. Retirá-los das ruas de noite é também uma forma de evitar vandalismo.

Nas cidades americanas, qualquer pessoa que tenha um carro pode se cadastrar no site e ganhar dinheiro cuidando dos patinetes. É preciso levá-los para casa, ligar na tomada e devolvê-los para as ruas com a bateria cheia na manhã seguinte. A tarefa de sair pela cidade buscando scooters foi comparado ao jogo “Pokemón Go”, mas com recompensas mais palpáveis: cada recarga gera entre US$ 5 (R$ 19) e US$ 12 (R$ 47).