Greve de táxis na Espanha lembra que confronto com Uber não acabou

Desde sexta-feira (27), taxistas fazem greve por tempo indeterminado nas principais cidades da Espanha. Ruas importantes foram bloqueadas pelos carros. De segunda para terça-feira (31), 1.500 motoristas passaram a quarta noite seguida dormindo nos veículos ou acampados em tendas no asfalto de Barcelona, segundo agências de notícias.

É mais um capítulo do conflito entre taxistas e motoristas de aplicativos que se desenrola pelo mundo ao longo desta década.

A greve começou na sexta-feira (27) em Barcelona, depois que a Justiça barrou um projeto do governo local que apertava as regras para os motoristas de aplicativos como Uber e Cabify, chamados no país de VTC (Veículos de Aluguel com Condutor). A expectativa era reduzir o número de VTCs na região de Barcelona de 1.300 a 400.

Em protesto ao veto, os taxistas deixaram de atender passageiros e bloquearam parte do centro da capital catalã. A greve, por tempo indeterminado, pede que o governo crie formas para garantir o cumprimento da lei federal que permite apenas uma licença VTC para cada 30 de táxi. Eles reclamam que essa proporção não é respeitada.

Com normas rígidas, a Espanha tem relativamente poucos carros de aplicativos: estima-se que há cerca de 9.000 licenças VTC e aproximadamente 65 mil taxistas. No Brasil, só a Uber diz ter mais de 500 mil motoristas cadastrados.

Táxis bloqueiam Paseo de la Castellana, em Madri, na segunda-feira (30) (Francisco Seco/AP)

No sábado (28), taxistas de Madri aderiram ào movimento e fizeram caravanas e bloqueios, que lembram as ações da greve dos caminhoneiros no Brasil.

Nos dias seguintes, a paralisação se espalhou para várias outras cidades, como Valência, Sevilha e Santiago de Compostela. A ação ocorre em pleno verão europeu, quando o país recebe muitos turistas.

O governo espanhol se reuniu com representantes dos taxistas na segunda-feira (30), mas não houve acordo. Outro encontro está previsto para esta terça-feira (31).

Representantes dos aplicativos argumentam que os taxistas querem garantir um monopólio. A prefeita de Barcelona, Ada Colau, acusa os motoristas de apps de atuar como táxis sem pagar os impostos adequados. “Eles têm se aproveitado de brechas legais para ter lucros astronômicos a custa de direitos dos cidadãos”, acusou.

Protesto bloqueia Gran Via, em Barcelona (Manu Fernandez/AP)

Confrontos entre aplicativos, taxistas e prefeituras ocorrem há mais de cinco anos em várias partes do mundo. Ainda há dúvidas sobre o quanto o governo deve interferir no setor. A criação de leis para regular o tema não foi suficiente, pois elas seguem sendo questionadas sob acusação de favorecer ou prejudicar a um dos lados.

No Brasil, o transporte via aplicativos foi regulamentado por uma lei federal em março deste ano, que repassou aos municípios a tarefa de definir as regras e fiscalizar o serviço. Assim, cada cidade pode criar suas próprias leis. No entanto, normas muito restritivas podem ir parar na Justiça, e, com isso, este mercado segue com uma sombra de incerteza, que ainda deve levar alguns anos para ser dissipada.