Valor baixo é vantagem e ameaça de novo sistema de bikes de SP

Bicicletas de empréstimo que funcionam sem estação, como as que chegaram a São Paulo no fim de julho, viraram um problema em algumas cidades do mundo porque, quando quebram, não são recolhidas.

Neste modelo, chamado “dockless”, não há estações fixas. A bike é liberada pelo celular e pode ser deixada em qualquer lugar após o uso.

Assim, não há gasto para instalar e manter estruturas nas calçadas. Também não é preciso manter equipes e carros para realocar o estoque entre pontos cheios e vazios, o que reduz custos. Além de bikes, patinetes elétricos são oferecidos desta forma em várias cidades dos EUA.

Bicicletas abandonadas nas margens do rio Tibre, em Roma (Rafael Balago/Folhapress)

Em Roma, por exemplo, há dezenas de bikes abandonadas nas margens do rio Tibre, por onde passa uma ciclovia. Os defeitos incluem falta de bancos, rodas tortas e uma enorme camada de sujeira. Algumas foram parar dentro da água e por lá ficaram.

Na China, há imagens piores, de pilhas enormes de bicicletas quebradas ocupando terrenos inteiros. Embora os equipamentos tenham GPS, não parece ser do interesse das empresas ir atrás de seu patrimônio danificado.

A explicação para isso pode estar no baixo custo dos equipamentos e na rapidez com que é possível compensar o investimento.  A Spin, start-up de San Francisco que atua em dezenas de cidades, disse à agência Reuters em julho que consegue reaver o valor de um patinete elétrico em duas ou três semanas de uso. Ou seja: tem lucro mesmo que cada equipamento rode por relativamente pouco tempo.

Outra forma de baratear as coisas é fazer veículos com estruturas mais simples, modelos padronizados e com produção em larga escala. Com isso, a reposição também fica mais fácil.

Assim, numa visão puramente financeira, o fato das bicicletas não durarem muito tempo não é um problema. Isso é bom por um lado: no Brasil, há um temor grande de que esses veículos públicos sejam roubados ou vandalizados. Mesmo se isso ocorrer com uma parcela deles, o negócio pode seguir interessante para quem investe.

O lado ruim fica para as cidades, que podem ter de conviver com carcaças amontoadas. Para evitar que isso aconteça, cabe às prefeituras fiscalizar. Paris, por exemplo, exigiu que os patinetes elétricos públicos sejam recolhidos todas as noites e devolvidos na manhã seguinte. Esta pausa também serve para que seja feita manutenção, o que gera trabalho para quem cuida dessa logística. E quanto mais tempo os veículos durarem, mais ganhos para todos os lados.