França testa limites dos cidadãos ao forçar mudança para veículos limpos
Nos últimos dias, quase 300 mil franceses paralisaram ruas e estradas para protestar contra um novo imposto para combustíveis fósseis. O plano do governo é estimular, pelo bolso, uma transição para veículos mais limpos.
Os protestos despertam uma pergunta: até onde os governos poderão pressionar os cidadãos a mudar para meios de transporte que poluem menos?
O novo imposto francês representará um aumento de 6,5 centavos de euro (R$ 0,28) por litro de diesel e 2,9 centavos (R$ 0,13) por litro de gasolina e passará a valer a partir de 1 de janeiro de 2019.
Além da taxa, há também estímulos para a troca de um carro antigo por modelos que poluem menos. O bônus pode chegar a 4.000 euros (cerca de R$ 17.200) e é destinado a famílias pobres.
Os franceses não gostaram do plano. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Journal du Dimanche, 62% dos entrevistados são contra ter de gastarem mais para aderir a veículos mais limpos, mesmo que isso signifique atrasar o processo do fim do uso do petróleo.
O governo francês disse entender as queixas da população, mas prometeu manter as medidas.
Fora as alterações nas regras da compra de carros, países da Europa também buscam forçar a mudança com proibições de circulação nas grandes cidades. Em Paris, há barreiras contra veículos fabricados antes de 1996, e a partir de julho de 2019, serão banidos carros a diesel com mais de 14 anos.
Em Londres, a restrição a veículos poluentes será ampliada a partir de abril de 2019. Boa parte dos automóveis a gasolina lançados antes de 2005 e a diesel que tenham mais de quatro anos de uso terão de pagar uma taxa diária de 12,50 libras (R$ 60) para acessar as áreas centrais.
O pacote que inclui tributar combustíveis fósseis, dar desconto para a compra de modelos novos e banir a circulação em algumas áreas começa a mostrar suas limitações, mas é cedo para dizer se os protestos da França serão capazes de conter a onda europeia rumo aos carros menos poluentes.
Ao que tudo indica, o Brasil terá tempo para ver se os caminhos escolhidos pelos europeus darão certo. O programa Rota 2030, que dará as diretrizes para a produção de veículos no país, pouco fala sobre a adoção de modelos limpos. Há uma redução prevista do IPI de carros elétricos e híbridos de 25% para 7% e uma demanda que os motores convencionais consigam rodar 11% a mais com menos combustível.
O país implanta proibições há décadas. Em 1976, o uso de diesel em carros de passeio foi proibido. O rodízio paulistano, criado em 1997, veio com a promessa de tornar o ar menos poluído, mas acabou virando uma forma de reduzir o trânsito.
Depois dos protestos de junho de 2013, surgiram planos para criar um imposto para financiar o transporte público, mas a ideia foi abandonada. A greve dos caminhoneiros que pedia redução do preço do diesel, em maio, mostrou que mexer no preço dos combustíveis pode trazer um grande desafio político.
Além de reduzir a poluição do ar e das ruas, carros elétricos e híbridos também deixam as cidades mais silenciosas. No Brasil, Fuscas e Kombis antigos e barulhentos seguem rodando sem serem incomodados. E há grandes chances de que veículos assim sigam livres de barreiras nas cidades ou nos postos pelos próximos anos.