Serviços públicos de qualidade reduzem a criminalidade, dizem colombianos
Para reduzir a violência numa cidade, não basta apostar em mais armas. É preciso também melhorar as condições de vida nas áreas mais pobres, defenderam especialistas e gestores da Colômbia que foram responsáveis por mudanças na cidade de Medellín.
Com um ambiente melhor e mais oportunidades, diminui a chance de jovens escolherem o caminho da violência. “A falta de emprego e de integração com a sociedade abre espaço para o domínio do tráfico e do crime”, disse Carlos Rodriguez, arquiteto e ex-gerente de desenho urbano de Medellín, durante o debate Urbanismo e Segurança Pública, organizado pelo Arq.Futuro na sexta-feira (23) em São Paulo.
Os colombianos também ressaltaram que não basta criar estruturas: elas precisam ser bem-feitas. “Não se pode ter um hospital ou uma escola de uma qualidade boa nas áreas ricas e de péssima qualidade nas áreas pobres. As instalações precisam ter uma boa aparência, uma boa arquitetura e funcionarem bem”, defendeu Gerard Martin, especialista em desenvolvimento social.
A disparidade da qualidade do espaço público entre áreas pobres e ricas segue gritante no Brasil. Em São Paulo, a condição das ruas e calçadas varia bruscamente, até mesmo dentro de um próprio bairro. O mesmo vale para ônibus, escolas e hospitais.
Em Medellín, cidade de cerca de 2,5 milhões de habitantes, a taxa de homicídios era de 380 por 100 mil habitantes em 1991. Em 2016, essa taxa caiu para 21. No Brasil, está em 29,7.
A reforma nas áreas pobres de Medellín integrou vários setores diferentes do governo. Ruas e calçadas foram pavimentadas, alargadas e urbanizadas. A ideia foi criar espaços de convivência. “A rua é expressão da dignidade do cidadão”, disse Rodriguez.
Houve melhorias no transporte, com o reforço de linhas de ônibus e a construção de um teleférico. Para facilitar o acesso às áreas mais altas, escadas rolantes foram instaladas ao ar livre.
Na área de educação, foram inauguradas bibliotecas-parque. “Uma biblioteca é algo que vai dar impacto daqui a dez ou 20 anos, pois vai permitir que uma criança estude e aprenda mais. Com isso, há menos chances de ir para um caminho errado no futuro”, analisa Martin.
Medellín também apostou em estratégias de policiamento comunitário, planejado quarteirão por quarteirão, e em formas de resolver conflitos entre moradores.
No evento, também foram mostrados projetos de Recife, que passou a implantar centros de educação, cultura e serviços em áreas vulneráveis, e do Rio de Janeiro, onde o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) naufragou por, entre outras razões, não ter sido acompanhada de melhorias em outros serviços públicos.
Para Ricardo Henriques, ex-presidente do Instituto Pereira Passos, houve dificuldade para coordenar as ações entre dezenas de órgãos de governo. E a lista de serviços e obras a serem feitos nas comunidades também era imensa. Em muitos casos, as ruas e vielas não tinham nome oficial e precisavam ser mapeadas, para que depois disso se pudesse estudar como levar os serviços até elas.
Inspirada no modelo colombiano, o Morro do Alemão ganhou um teleférico em 2011, que parou de funcionar em 2016 e segue sem previsão de retorno. Ele virou uma triste lembrança do quanto falta a ser feito para integrar áreas pobres e ricas das cidades do Brasil.