Por que os ônibus de São Paulo estão perdendo as cores?

Nas últimas semanas, começaram a circular novos ônibus na cidade de São Paulo, pintados apenas na cor prata. Desde 2004, o município adota um padrão de oito cores diferentes em sua frota, uma para cada região da cidade.

O blog perguntou à SPTrans qual a razão disso. A resposta foi que a mudança “visa não gerar custos extras e retrabalho com a pintura dos veículos para atenderem a nova rede prevista na licitação em curso”.

A prefeitura paulistana, sob gestão de Bruno Covas (PSDB) realiza uma licitação para definir as empresas que vão operar os ônibus, mas o processo se arrasta desde 2013. Em maio, a duração do contrato, de 20 anos, foi questionada na Justiça e o processo foi travado novamente.

Quando a licitação terminar, deverá ocorrer uma reorganização das linhas. Além dos dois tipos atuais (estrutural e local), haverá um terceiro modo, chamado de articulador, com ônibus de tamanho médio. As novas cores previstas não foram reveladas.

Ônibus municipal de São Paulo em Pirituba, na zona norte (Rafael Balago/Folhapress)

O padrão de oito cores começou a ser abandonado em 2015, quando a prefeitura, sob gestão de Fernando Haddad (PT), passou a pintar de prata os ônibus super articulados A ideia, na época, era destacar os veículos que circulam em corredores e aproximá-los da aparência do metrô.

A cidade de São Paulo teve vários padrões de pintura de ônibus nas últimas décadas. Nos anos 1970 e 1980, havia o design chamado de saia e blusa: a metade de baixo trazia a cor da região atendida, e a de cima era escolhida pela empresa. Disso surgiam combinações curiosas, como verde-abacate e laranja. A numeração das linhas vem dessa época, e reflete uma divisão da cidade que não existe mais.

Nos anos 1990, foi adotado o modelo de pintura branca com uma faixa vermelha ou verde. Ele foi trocado em 2004, quando começou o modelo atual, implantado na gestão de Marta Suplicy (PT).

A pintura dos coletivos é uma fonte de informação para os usuários, capaz de facilitar o uso do transporte: dá para ver de longe se o ônibus certo está chegando, e também indica rapidamente para que parte da cidade aquele coletivo vai.

O sistema de oito cores ajuda a achar o ônibus nas áreas centrais, mas não nos bairros, pois na maioria deles quase todos tem a mesma aparência.

“Os ônibus carecem de uma identidade visual forte e bem planejada. O código cromático (…) mais colore a paisagem do que orienta os usuários. Sendo móveis, os veículos embaralham as cores-código por toda a cidade; tais cores, sozinhas e representando áreas imensas, pouco informam e somente acrescentam mais ruído ao ambiente”, critica Celso Carlos Longo Jr, mestre em arquitetura pela USP, em seu livro “Design Total”, de 2007, que analisa a identidade visual do transporte público paulistano.

O estilo dos ônibus também ajuda a formar a imagem de cada lugar: os modelos vermelhos de dois andares de Londres se tornaram um símbolo reconhecido no mundo todo. Na capital inglesa, assim como em Nova York (onde a pintura é branca com uma faixa azul), Paris (verde, branco e preto) e Berlim (amarela), toda a frota possui as mesmas cores.

Em Buenos Aires, há pinturas totalmente diferentes entre as linhas, algumas delas bastante espalhafatosas.

No Brasil, mudar a cor dos coletivos também é estratégia de marketing político. É comum que prefeitos ordenem pinturas totalmente novas ao tomar posse ou quando as eleições se aproximam.