Medidas da Prefeitura de SP irritaram passageiros, empresários e funcionários de ônibus

Para quem usa, trabalha ou investe nos ônibus municipais de São Paulo, 2019 tem sido um ano complicado. Decisões da prefeitura de São Paulo, sob comando de Bruno Covas (PSDB), geraram problemas e incertezas para todos eles. 

Em abril, foi anunciado um bloqueio de milhares de cartões mais antigos do bilhete único, inclusive os que tinham saldo armazenado. A razão –coibir fraudes– é importante, mas o processo gerou confusão para os usuários. A troca por modelos novos exige fazer cadastro e perder tempo em filas em postos de atendimento.  

Os velhos bilhetes seguem válidos por mais alguns meses, mas com saldo limitado a R$ 43, o que paga dez viagens. E muitos atendentes nos locais de recarga –que incluem bancas de jornal, loterias e lojinhas de bairro– não sabiam explicar o que havia mudado, nem como solicitar um novo.

Outro problema para os passageiros foi a redução do número de viagens do vale transporte: caiu de quatro para duas. Isso prejudicou especialmente quem mora nas bordas da cidade e precisa fazer mais conexões. Mais de uma vez, a medida foi proibida pela Justiça e depois liberada. 

Para as empresas, houve atrasos em repassar o dinheiro do subsídio municipal. O valor arrecadado com as tarifas não é suficiente para fechar as contas e a prefeitura injeta mais dinheiro para isso a cada ano. Em 2019, esse valor deve chegar a R$ 3 bilhões. Parte das receitas referentes a dezembro de 2018 só foram pagas em maio deste ano, por exemplo. O prefeito Bruno Covas disse, em entrevista à TV Globo, que os pagamentos agora estão em dia. 

Há também a demora em concluir a licitação que reorganiza o sistema. As viações vencedoras são praticamente as mesmas que operam hoje, mas as novas regras e o prazo dos contratos dependem de decisão da Justiça. Esse processo se arrasta desde 2013, e o coletivos operam com base em contratos emergenciais.

Enquanto isso, os funcionários vivem sob temor de demissões em massa. A retirada dos cobradores segue sendo feita de modo discreto. Eles já não atuam em linhas de micro-ônibus. No entanto, a proposta de reduzir a frota circulante, feita pela prefeitura, ameaça também as vagas de motoristas, mecânicos e fiscais, já que menos ônibus demandam menos trabalhadores. Cada veículo rodando emprega em média quatro pessoas, segundo as contas da NTU, associação que reúne empresários de ônibus.

Há cerca de 14 mil veículos na frota paulistana, que levaram em média 6,9 milhões de usuários por dia em junho, de acordo com dados da SPTrans

A gestão municipal pede que as empresas realoquem os profissionais, mas a tendência é que eles se tornem cada vez menos necessários. Novas tecnologias, como o pagamento por cartão de crédito ou QR code e monitores GPS embarcados nos coletivos permitirão eliminar tarefas como anotar no papel se as viagens foram cumpridas e contar o dinheiro no fim do dia.  E Covas recomendou que as empresas deixem de contratar novos funcionários. 

Não há saída fácil para um negócio que gasta cada vez mais dinheiro mas, ao mesmo tempo, perde clientes aos poucos. A reorganização das linhas, proposta pela prefeitura, pode ajudar, mas precisará ser feita de modo cirúrgico e transparente.

Outra solução é a criação de novas faixas e corredores de ônibus, pois isso aumenta a velocidade das viagens, o que atrai passageiros e reduz custos. Coletivos presos no trânsito geram prejuízo para todos os lados.