Dados do bilhete único poderiam ser usados para rastrear casos de Covid-19
Os dados das viagens no transporte público poderiam ser usados para mapear como se deu a contaminação de pessoas pelo coronavírus e, assim, entender melhor como a doença tem se espalhado, de modo a prevení-la.
Para isso, seria preciso cruzar os dados das pessoas infectadas com as viagens que elas fizeram recentemente, especialmente de ônibus.
Com isso, é possível avisar as outras pessoas que compartilharam aquela mesma viagem de que elas tiveram contato com alguém doente, podem estar contaminadas e precisam evitar contato social por alguns dias.
Em países como China e Japão, esse tipo de mapeamento detalhado ajudou a conter o espalhamento da Covid-19. Por lá, foram usadas tecnologias como o monitoramento por celular.
Todas as viagens pagas com o bilhete único geram um registro, que fica protegido e pode ser acessado mediante autorização. Ali ficam marcados quais pessoas que viajaram em cada coletivo, com data, hora e ordem em que passaram na catraca.
“É como um sigilo bancário”, diz Rafael Teles, diretor de produto da Transdata, empresa que fornece a tecnologia de operação de bilhete único em várias cidades do país, incluindo São Paulo.
No entanto, quem paga em dinheiro ficaria de fora desse acompanhamento. Na capital paulista, menos de 10% pagam à vista, mas na maioria do país, entre 30 e 40% usam notas e moedas, estima Teles.
A empresa lançou uma ferramenta para reservar viagens de ônibus rodoviários, que poderia ser adaptada para o transporte público.
Porém, seu uso nas redes urbanas esbarra no fato de que não há frotas suficientes na maioria das cidades para que as pessoas viajem de modo seguro e respeitem o distanciamento social, caso a demanda fique próxima do que era antes da pandemia.
“As empresas costumam calcular os custos considerando levar até seis passageiros em pé por metro quadrado”, diz Teles. “E comprar novos ônibus é muito caro.”
Em todo o mundo, o transporte público tem buscado tecnologias para aumentar a segurança a bordo, que incluem também o monitoramento de temperatura dos passageiros e reforço na limpeza.
“Nós temos tecnologia. O problema [do transporte] no Brasil é completamente político. Temos uma realidade de pouco dinheiro e muita demanda”, diz o diretor.
“Há também a legislação. Estamos em 2020, mas limitados por leis geralmente dos anos 1980 e 1990. A gente tenta ajustar a realidade à lei, e não o contrario. Muitas inovações caem na questão da insegurança jurídica”.
Ele comenta o caso da uBus, que lançou um serviço de transporte sob demanda em uma linha já existente, da EMTU, mas que acabou barrada pela prefeitura de São Paulo, que considerou o serviço ilegal.
“Empresas de fora, como o Uber, conseguiram obter em pouco tempo legislações mais favoráveis do que os empresários que atuam no país há decadas”, compara Teles.
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